Biografia de António Marcos

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António Marcos

António Marcos, de seu nome António Lodingue Matusse (Xiconela, Gaza, 10 de junho de 1951) é um músico moçambicano que se tornou famoso compondo e interpretando temas no género músical marrabenta, originário do sul do país.

História

Nascido a 10 de Julho de 1951 na localidade de Chiconela, o músico viveu à mercê do que a terra podia dar.

Aos oito anos de idade, perdeu o seu pai que também era régulo de um pequeno povoado, e, como um mal nunca vem só, os familiares do seu progenitor apoderaram-se dos bens que este deixara. “A minha não quis lutar pelas coisas que o meu pai deixou, ela confiou na enxada”, conta.

Ainda criança a sua vida resumia-se ir à escola e ajudar a sua mãe na machamba. O seu brinquedo de estimação era uma viola, de quatro cordas, feita de lata de azeite de um litro. Aliás, usava-a para afugentar os macacos que recorriam as machambas para se alimentar.

“Os macacos quando viam uma criança de oito anos não fugiam. Então, decidi fazer uma viola, fui tocando e devido ao barulho eles punham-se a correr”, diz. Mais tarde, fez uma viola maior, com uma lata de cinco litros, que lhe permitia trabalhar nas machambas de terceiros tanto de madrugada assim como no regresso da escola.

Em 1960, já contava com dez anos, o seu tio que trabalhava nas minas da África de Sul presenteou-o com uma guitarra de marca “Gallo” e foi aprendendo a tocar. A sua família, sobretudo a sua mãe, não ficou satisfeita com o presente pois acreditava que ele se tornaria boémio. Ou seja, havia, na altura, o preconceito de que todos os músicos levavam uma vida desregrada e não se casavam, razão pela qual António Marcos sempre teve de esconder a sua guitarra.

Com a 4ª classe feita, abandonou a sua terra natal em busca de um trabalho na capital do país. A 26 de Setembro de 1963, chegou a Maputo onde começou a trabalhar como “criado” – como eram chamados os empregados domésticos na altura. Mas despertou a paixão pela música quando, pela primeira vez, foi assistir ao filme “O homem do espaço”. E nas horas vagas passou a tocar a sua guitarra no jardim Dona Berta.

Tempos depois, mudou de local de trabalho. Transcorria o ano de 1970 quando a esposa do seu novo patrão, reconhecendo seu talento, pediu ao esposo da sua amiga que promovia eventos culturais no recinto conhecido por Praça de Torros de modo a abrir um espaço para ele apresentar-se.

Mayengane
António Marcos Cantando “Mayengane”

Diga-se, o autor de “Maengane” aproveitou os poucos minutos de uma música da sua autoria para mostrar o que vale e o resultado foi surpreendente: além de dar um espectáculo entusiasmante e receber aplausos apoteióticos, ganhou 500 escudos, duas camisas, cigarros e blocos de nota.

E de seguida foi-lhe perguntado se tinha uma banda e, para se valorizar, afirmou que tinha, tendo sido colocado repto de se apresentar com a mesma nas semanas subsequentes.

António Marcos reuniu os seus amigos Aurélio Mondlane, Daniel Langa e Miguel Dimas, formando, assim, agrupamento musical que denominou “ Os Gallo Ton”, em homenagem a sua primeira guitarra. Criou o grupo Cooperativa de Teatro Popular e, mais tarde, Xiconela Ritmos e em 1986 começou uma carreira a solo. Em finais de 1999, abraçou o projecto Mabulu e afastou-se em 2005.

Gravou o seu primeiro disco em 1970, e desde então criou ou foi membro de vários agrupamentos musicais com os quais registou alguns sucessos, cantando sempre na sua língua materna o xangana. A sua carreira avançou sobremaneira nos últimos anos com a sua participação no Projecto Mabulu, um grupo musical criado em 1999 juntando músicos de gerações e estilos diferentes, daarrabenta ao rap.
Desta experiência surgiu o tema de grande sucesso Maengane, que marcou o músico de tal maneira a se tornar quase o seu nome artístico.

O Pugilista

É difícil de acreditar que um dos melhores músicos que já se fizeram neste país, dono de uma voz fina e inconfundível, já foi pugilista. Se calhar não, até porque, para um indivíduo que, além de cantor, é escultor, mecânico, sapateiro, pintor, desenhador de roupa de tecido e agora deseja dedicar-se à tecelagem pode se esperar tudo. “Fui aprendendo estas actividades por curiosidade”, afirma.

A sua entrada no boxe dá-se por volta de 1963 logo após ter sido brutalmente espacado por um grupo de jovens numa noite quando saia para deitar o lixo da casa onde trabalhava. A agressão física que sofreu deveu-se o facto de António Marcos não frequentar os mesmos locais que aqueles jovens.

“Havia um jovem, por sinal meu vizinho, que foi informar aos outros que tinha chegado uma pessoa de Gaza no seu bairro e que não queria se misturar com eles. Daí, decidiram bater-me”, conta.

Depois dos ferimentos sararem, o músico recebeu o convite por parte de um pugilista que o socorreu quando estava a ser espancado para treinar boxe. Não se fez de rogado, aceitou o desafio e começou a ter as primeiras aulas.

Tempo depois de muita prática, foi apresentado ao clube do Ferroviário, mas, segundo as próprias palavras, “o boxe que se praticava era muito fraco, portanto, decidi ir à Malhangalene porque ali havia grandes pugilistas e a maioria já havia ganho um campeonato”.

Em 1967 foi mascote do ring e no seu escalão não tinha adversário. No fim de 1969, foi campeão nacional de boxe, facto que se veio a repetir em 1971.

Mais tarde, verificouse uma paragem prolongada do campeonato durante cinco anos, tendo novamente assistido-se a uma interrupção de quatro anos. Em 1980, voltou a realizar-se o campeonato onde acabou por ser mais uma vez campeão pondo o fim à sua carreira de pugilista para se dedicar à música.

Hoje, com 60 anos de idade, a data de nascimento que aparece no bilhete de identidade não é relevante, pois António Marcos expele muita vitalidade, sobretudo na sua vibrante e entusiasmante maneira de dançar.

É, sem dúvida, um dos mais internacionais artistas moçambicanos, afinal, já actuou em mais de 20 países dos quatro cantos do mundo. Recentemente, esteve na Etiópia onde foi convidado para actuar numa festa alusiva aos 35 anos da independência de Moçambique. A nível nacional, só ainda não deu espectáculo na província de Niassa, mas, garante, que dentro deste mês isso poderá acontecer.

Diz que não ganhou muito dinheiro no mundo da música, mas o suficiente para sustentar a sua família e salienta ainda que continua na música, não porque está à procura de sobrevivência, pelo contrário, sente que nasceu para esta arte.